Bloomberg Línea — A Nestlé Brasil acertou novas parcerias com a re.green e a Barry Callebaut para dois projetos de restauração de ecossistemas ambientais que somam cerca de 8.000 hectares e prevêem a plantação e a preservação de 11 milhões de árvores em regiões produtoras de café nos estados da Bahia e do Pará.
As iniciativas fazem parte do plano de longo prazo para a maior empresa de alimentos do mundo de reduzir as emissões de sua cadeia produtiva, com o objetivo de se tornar Net Zero em 2050, e se juntam a outras já em andamento.
As áreas que serão convertidas em florestas nativas e em sistemas agroflorestais com cacau, com o compromisso de preservação por pelo menos 25 e 30 anos em cada um dos estados, respectivamente.
“A estratégia de sustentabilidade vai muito além da remoção de carbono. Queremos regenerar áreas em regiões em que nos abastecemos, porque a restauração ambiental aumenta a resiliência das cadeias de suprimentos”, afirmou Barbara Sapunar, diretora executiva de Business Transformation e ESG da Nestlé Brasil, em entrevista à Bloomberg Línea.
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Esse foi justamente um dos principais desafios dos dois projetos: encontrar uma evolução do que é a agricultura regenerativa para ampliar o impacto e também os parceiros que pudessem viabilizar as iniciativas.
Segundo a executiva, são dois projetos - com a re.green e com a Barry Callebaut - diferentes mas complementares. No primeiro caso, por exemplo, a restauração se dá em territórios da própria re.green; no segundo, em áreas de produtores.
A iniciativa com a re.green vem de conversas que se desenrolam há cerca de dois anos com a equipe liderada pelo CEO Thiago Picolo.
A empresa foi fundada por cientistas renomados do país em 2021 com a missão de restaurar florestas tropicais em grande escala - e atualmente opera mais de 30.000 hectares em quatro estados brasileiros.
O projeto em questão prevê reflorestar mais de 2.000 hectares no sul da Bahia, com o plantio e o cultivo de 3,3 milhões de árvores que são espécie nativa da Mata Atlântica.
A previsão é que a iniciativa, com duração inicial de 30 anos, gere cerca de 880.000 créditos de carbono certificados, de acordo com as empresas.
“Mas o objetivo é que a preservação seja perpétua. A parceria terá 50 anos de duração”, disse o CEO da re.green na mesma entrevista.
Outra característica fundamental do projeto, segundo os executivos, é o impacto sobre a cadeia de produtores de cacau que são fornecedores da Nestlé.
“Desde a primeira conversa, não falamos ‘apenas’ de árvores que seriam plantadas ou do sequestro de carbono mas também de como ter uma atuação positiva com impacto sobre a sustentabilidade da região”, disse Picolo.
Isso inclui, segundo ele, impactos associados à recuperação do ecossistema, como nos recursos hídricos, na fixação de solo e na polinização. “Vai gerar dividendos para a comunidade do entorno e resiliência para a restauração.”

O projeto já teve início na prática com a Fazenda Gameleira, no sul da Bahia, com a restauração de 250 hectares, ou seja, mais de 10% do total.
Haverá verificação anual do trabalho de plantio e restauração da floresta em um primeiro momento e, posteriormente, a cada três anos por uma certificadora externa. O mesmo vale para a evolução da recuperação da biodiversidade.
“Há uma série de obrigações que vamos cumprir para atestar a integridade do projeto de restauração da floresta”, disse o executivo.
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No caso da parceria entre a Nestlé Brasil e a Barry Callebaut, gigante global em produtos de chocolate e cacau, a iniciativa vai restaurar 6.000 hectares de Mata Atlântica e Amazônia nos estados da Bahia e Pará. Uma parte das áreas será convertida em sistemas agroflorestais com cacau.
O projeto inclui reflorestamento de alta densidade em cerca de 600 hectares de Áreas de Proteção Ambiental (APPs) e Reservas Legais (RLs).
As duas empresas de origem suíça já possuem parcerias de muitos anos.
No total, serão plantadas 7,7 milhões de mudas — de cacaueiros e outras espécies nativas de cada região —, posteriormente cultivadas por, pelo menos, 25 anos em propriedades que compõem a cadeia produtiva do cacau.
Outro dos desafios no caso da Barry Callebaut é o convencimento de produtores a aderir ao programa.
“Haverá também pagamento por serviços ambientais com base na muda comprada, como se fosse um ‘cashback’ que o produtor recebe quando o resultado é mensurado”, disse Raony Penteado, gerente comercial de Sustentabilidade da Barry Callebaut, na mesma entrevista.
“Estamos muito otimistas sobre a adesão”, afirmou o executivo.
“É um trabalho de ‘letramento’, de estímulo ao capital humano vinculado a essa agenda, que se espera que perdure por muitos anos”, disse Sapunar.
A estimativa é que 600 mil toneladas de CO2 seja retirada com o programa.
“O contrato prevê a parceria por 25 anos, mas o projeto não acaba aí e o seu impacto é duradouro”, ressaltou da mesma forma Penteado.
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