Startups brasileiras sacam centenas de milhões de dólares às pressas do SVB

Fundadores do país buscam garantir o acesso aos recursos com receio de que o banco americano suspenda os resgates, disseram fontes à Bloomberg Línea

Prédio do Silicon Valley Bank: banco tenta reequilibrar balanço após perdas com títulos e resgates de clientes (Reprodução/SVB)
09 de Março, 2023 | 08:35 PM

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Bloomberg Línea — Fundadores de startups brasileiras sacaram centenas de milhões de dólares do Silicon Valley Bank (SIVB), conhecido como SVB, nesta quinta-feira (9), depois que o banco lançou uma venda de ações de US$ 2,25 bilhões para reforçar seu balanço e mitigar os efeitos dos depósitos em queda de startups que lutam por dinheiro em momento de capital mais escasso para ativos de risco e tecnologia.

As ações do SVB despencaram cerca de 60% nesta quinta na Nasdaq; e recuavam mais de 20% nas negociações do after hours.

Um banco voltado para atender startups em estágio inicial, o SVB é referência para empresas de tecnologia também do Brasil que recebem dinheiro de fundos de capital de risco do mundo.

Com o nível de depósitos em queda, o CEO do SVB, Greg Becker, disse que a queima de caixa por empresas que são clientes aumentou em fevereiro. Os recursos levantados com a venda de ações serão reinvestidos em dívidas de curto prazo e no aumento dos empréstimos do banco.

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Investidores e fundadores de startups da América Latina ouvidos pela Bloomberg Línea disseram que “todo mundo” está sacando o dinheiro do banco “enlouquecidamente”, enquanto outros acreditam que o SVB deve travar os saques em breve.

“Parece que o consenso entre os brasileiros de tirar o dinheiro é mais forte, talvez pela nossa experiência passada com esse tipo de situação no Brasil”, disse um fundador ouvido pela Bloomberg Línea em condição de anonimato.

O SVB tinha representação para a América Latina, por meio de Julia Figueiredo, que era a diretora para a região de startup banking. A executiva deixou o banco há quase um ano, em abril de 2022, para assumir a diretoria para a América Latina no Partners for Growth.

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Um fundador ouvido pela Bloomberg Línea disse que Figueiredo era o principal ponto de contato do SVB na região e que, sem ela, “o pessoal ficou de mãos atadas em questão de suporte”.

Oportunidades diante da crise

Diante da crise do SVB, a startup brasileira Trace Finance, que opera com câmbio para startups, antecipou o lançamento do que pretende ser uma alternativa para bancarizar empresas.

Startups da América Latina normalmente necessitam de uma estrutura legal que conta com uma empresa nas Ilhas Cayman e outra em Delaware, nos Estados Unidos, para receber investimentos de fundos estrangeiros.

A Trace, que já operava essas transações trazendo o dinheiro para o Brasil, agora vai oferecer um banco, mas disse que não vai operar com crédito, para evitar problemas como o do SVB.

Segundo o CEO e cofundador da Trace Finance, Bernardo Brites, a empresa servirá como um parceiro bancário para as startups nos Estados Unidos. Só nesta quinta-feira de soft launch, startups com mais de US$ 3 bilhões entraram na lista de espera para o banco da Trace nos EUA.

“Entendemos que o mercado está em modo de risco e que hoje cautela é o mais importante. Não vamos ter reserva fracionária, todos os usuários vão ter 100% do balanço deles a todo momento. E não vamos entrar em produto de crédito porque nunca vamos emprestar dinheiro dos nossos usuários. Entendemos que o fundador pode querer sacar o dinheiro na hora que quiser”, disse Brites.

O banco da Trace Finance vai focar em uma conta corrente sem taxa, com transferência internacional, e deve lançar um cartão de débito.

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Além da Trace Finance, grandes bancos como o Itaú BBA e gestoras como a Genial Investimentos também tinham no SVB um benchmark com a proposta de acesso a capital, câmbio e banking para startups.

“Usávamos o SVB como cliente porque não havia alternativa para bancarizar a empresa nas Ilhas Cayman e em Delaware”, disse Brites. “Todo o ecossistema de startups e fundos da América Latina estava no SVB.”

O plano de Brites é trazer esse dinheiro e os clientes que estavam no SVB para seu novo banco.

Por meio de nota, a Genial Investimentos esclarece que nunca realizou qualquer negócio com o SVB ou indicou a instituição para seus clientes. O SVB foi citado apenas como exemplo do que faz um banco voltado a empresas de tecnologia.

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-- Atualizada com nota da Genial Investimentos às 09:04 do dia 11/03/2023

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Isabela  Fleischmann

Jornalista brasileira especializada na cobertura de tecnologia, inovação e startups