Moro diz que voto em Bolsonaro foi erro ‘acompanhado de 50 milhões de brasileiros’

Em lançamento de livro, Moro faz um discurso atacando Bolsonaro e Lula, tentando se firmar como 3ª via

Sergio Moro, em lançamento de livro em São Paulo
07 de Dezembro, 2021 | 11:34 PM

Saudado aos gritos num auditório repleto de apoiadores, muitos deles veteranos das passeatas antipetistas de 2015 e 2016, Sergio Moro lançou seu livro “Contra o Sistema de Corrupção” em São Paulo, buscando atacar simultaneamente o presidente Jair Bolsonaro, a quem serviu como ministro, quanto o ex-presidente, a quem condenou como juiz.

Se chegam as eleições e você está desanimado porque o governo que está é muito ruim e as perspectivas de um governo que vem são igualmente ruins. Parece que os brasileiros estão indo em 2022 para um funeral, é só escolher a cor do caixão”, disse, ao final de um discurso de 25 minutos, no qual ficou de pé, andando pelo palco no auditório do Hotel Renaissance, nos Jardins (área nobre de São Paulo).

“E as pessoas começaram a me provocar ‘volta’, ‘volta’, acabei escolhendo retornar e voltei para apresentar não a minha versão, mas os fatos como eles ocorreram. Voltei para a gente olhar para o futuro. E voltei principalmente por vocês”, discursou.

Num outro momento, disse que quem elogia Cuba e a Nicarágua – referindo-se ao PT – não tem autoridade para criticar o autoritarismo do atual presidente.

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Moro seguiu um roteiro de exaltação da Operação Lava Jato até explicar como aceitou ser ministro de Bolsonaro e por que rompeu com Bolsonaro.

“Alguém pergunta hoje a um eleitor comum ‘ah, você votou no Bolsonaro?’, como se você fosse culpado, cúmplice de um crime. Fiquem tranquilos, o erro foi acompanhado por mais de 50 milhões de brasileiros. Mesmo quem votou contrariado, tinha ali [em 2018] a esperança de que poderia dar certo”, discursou.

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“Aí o presidente do seu país, eleito, vem e te convida: ‘te dou carta branca, vamos consolidar o combate à corrupção’. É difícil, ainda que você tenha algum ceticismo, ainda que você tenha alguma desconfiança, mas abrir mão dessa chance é complicado. Eu acabei aceitando e fui pro governo”, discursou.

E depois de uma pequena pausa completou: “Fui fiel lá”.

A menção à fidelidade não soa gratuita. Entre os apoiadores do presidente, o ex-ministro ganhou a pecha de traidor.

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Depois de catalogar as iniciativas da pauta anticorrupção que, na sua versão, foram desmobilizadas por Bolsonaro, o ex-ministro disse que deixou o cargo para preservar a Polícia Federal das tentativas do presidente de controlar o órgão para proteger familiares e aliados suspeitos de corrupção.

“O que para mim era muito difícil era ver que o presidente não ajudava. Ele sabotava os avanços da consolidação do combate à corrupção”, acusou.

Instado a falar sobre a desistência do Ministério Público Federal de reabrir o processo contra o ex-presidente no caso do triplex, que rendeu a primeira condenação de Lula e que foi responsável por levá-lo à prisão e tirá-lo da eleição de 2018, Moro afirmou que o Supremo Tribunal Federal errou ao anular a condenação.

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Agora, a Procuradoria considerou que o caso já estava prescrito – em linguagem jurídica, prescrever é a perda do direito de acionar judicialmente alguém, devido ao decurso de tempo.

“Com todo respeito ao Supremo, [a anulação da condenação] foi uma decisão errada. O Supremo proferiu decisões que minaram o combate à corrupção. Isso enfraqueceu. Essa decisão [do Ministério Público Federal] hoje me entristece porque a gente vê um sistema de justiça que não decide mérito, que não dá uma resposta para as pessoas”, afirmou.

Num outro trecho, Moro alfinetou: “Vou dizer o óbvio: a Petrobras é uma empresa de exploração de petróleo, é como se você tivesse uma gigantesca mina de ouro, você quase quebrar a Petrobras, como fez o governo do PT, é uma proeza porque, olha, você está sentado em cima de dinheiro”.

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Quando falava sobre o vazamento das mensagens no escândalo da Vaza Jato, Moro criticou gente que “roubou, roubou, roubou” e que buscavam a nulidade de processos e sentenças sob alegação de que o juiz agiu em conluio com o Ministério Público, o que é ilegal.

“Juízes, advogados, procuradores, advogados e policiais conversam. Apareceram lá aquelas mensagens e a gente tinha muito claro que o objetivo era anular as condenações por corrupção de gente que roubou a Petrobras, o governo do Rio de Janeiro, que roubou, roubou, roubou, nem tem que fazer a lista aqui. Isso é um problema, como é que você vai discutir essas mensagens se o objetivo era esse especificamente?”

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Graciliano Rocha

Editor da Bloomberg Línea no Brasil. Jornalista formado pela UFMS. Foi correspondente internacional (2012-2015), cobriu Operação Lava Jato e foi um dos vencedores do Prêmio Petrobras de Jornalismo em 2018. É autor do livro "Irmã Dulce, a Santa dos Pobres" (Planeta), que figurou nas principais listas de best-sellers em 2019.